Depois que a gente cresce, a gente se dá conta de como fomos ingênuos em ter pressa de crescer antes. Tenho quase certeza que, quando criança, me perguntaram mais vezes “o que você quer ser quando crescer?” do que “o que te faz feliz agora?”. Talvez se eu tivesse parado para pensar em o que me fazia feliz eu teria parado de me preocupar com o futuro, e continuar fazendo isso até hoje.
Essa semana saí pra sentar na mesa de bar com várias pessoas que não conversava há tempos. Quando foi que a minha prioridade não foi mais fazer isso toda semana? Quando foi que eu me prendi na rotina? Quando foi que a gente ficou tão complexo e cada copo de cerveja era uma enxurrada de histórias que não compartilhamos um com o outro quando estava estourando?
Na segunda, minha amiga que ficou mais de um ano em um relacionamento abusivo, se diz tão livre agora, mas não consegue ficar uma semana sem um vínculo amoroso, sem ficar leve só consigo mesma. A gente não é completo desde sempre? E se faltar a gente se completa? Amor é tão mais que sair pra jantar ou ter assunto o tempo todo, é crescer a cada segundo compreendendo o que tá lá dentro do outro, e ficar feliz em fazer parte de uma construção mútua, porque amor não tem nada de pronto..
“Ah, e o trabalho, como vai?” (pergunta do paulistano médio)
O trabalho é sempre um peso, uma farda, que só compensa se ganha bem o suficiente para sustentar um padrão de vida médio/alto em São Paulo. Mas eu liguei para Paraíba essa semana, e eles trabalham tão menos, talvez ganhem menos, mas são tão mais tranquilos (me senti mal depois em exigir as coisas na hora, com esse ar de rapidez e um obrigada só de tabela), a realidade é que devíamos admirar quem sabe que trabalho é só uma parte da nossa vida. Não precisa trabalhar 12h por dia, não precisa mesmo, não existe função que exija isso. É tudo questão de escolha e prioridades, temos todo tempo do mundo no final das contas.
Mas quando a conta não bate, a economia cara obriga uma outra amiga minha, que encontrei na quarta, que sonhava em querer fazer audiovisual e produzir filmes, a querer muito trabalhar em um banco pra ganhar dinheiro. Ela quer o dinheiro pra viajar, eu quero viajar também, mas sei lá, vale a pena?
Eu percebi claramente que o mais feliz da mesa era meu amigo que faz teatro. Ele foi expulso de casa quando assumiu que era gay. Bateu de frente. E olha.. é uma das pessoas mais honestas que eu conheço.
Aqui dentro é tão confuso decidir o que é sonho, o que é prioridade, o que é possível, o que é futuro, o que é útil. O que eu tô fazendo aqui? Tenho tantas coisas a meu favor, mas o que eu tô fazendo aqui? É como se vira e mexe tudo que eu faço perdesse o sentido e ficasse tão vazio. Quanto, quem, onde, vale meu tempo?
Era tão mais fácil quando eu achava que a vida tinha que estar montada e meus objetivos só iriam vir, assim, nessa ordem: se formar na escola, passar no vestibular, se graduar, carteirinha da OAB, ser efetivada, casar, filhos, Disney em julho e praia em dezembro. Não esquecer de gastar 300 reais no conjunto da Barbie, mais 400 na coleção completa da Hot Wheels pra dar de presente de natal para os pequenos, e descobrir que a maioria das pessoas se casam pra obedecer tudo isso e não se amam.
A realidade é que de repente estamos presos em uma rotina, e supostamente ancorados em responsabilidades que no final das contas não são nem um pouco pesadas. Ninguém é obrigado a estacionar em lugar algum. Mas os anos passam e continuamos no mesmo lugar, achando que só aquilo é possível, que não existem opções. Mas o mar é enorme, tão tão enorme. Eu ainda preciso descobrir.